sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Conheça a obra Mulheres de Cinzas, de Mia Couto

Mulheres de Cinzas, de Mia Couto, é uma obra literária que se passa no final do século 19, no sul de Moçambique, na África. A história se passa em meios aos conflitos travados pelos portugueses contra o imperador local Ngungunyane, um dos últimos líderes do Estado de Gaza, pelo controle da região. É um épico poético-histórico que conta com dois protagonistas, o sargento Germano e a jovem intérprete Imani, cujo romance conhecemos por meio de cartas enviadas pelo sargento à Portugal.

Naquela época, os portugueses, em sua maioria, ainda acreditavam que os africanos eram desprovidos de alma, e essa teoria era usada para justificar os abusos e barbaridades da colonização e da escravidão. Mesmo que no vilarejo de Nkokolani os abusos cometidos pelos portugueses não fossem tão explícitos, ainda assim eles se achavam superiores. A maioria deles, por exemplo, exigia que os nativos os carregassem.

Fugindo à regra de comportamento dos portugueses, o sargento Germano andava pelas próprias pernas e parecia se importar com o povo. Além disso, por meio das cartas que ele enviava ao seu superior em Portugal, ele demonstrava se sentir frágil perante às imprevisibilidades da vida.  Assim, se por um lado poderíamos ter uma visão pré-estabelecida de que ele poderia se valer de sua “superioridade branca” ou de sua patente no exército português para se aproveitar da jovem Imani, é interessante e rico para o livro observar que isso não acontece. 

Imani é uma personagem complexa. Inteligente, falante da língua do colonizador e estrategicamente silenciosa, Imani conseguiu passar despercebida por todos, mas não por Germano. Eles se envolvem romanticamente, mas isso não é o foco principal da obra e muito menos é marcada pela abusividade que podemos esperar deste tipo de relação (entre homens que podem se valer da idade, patente ou outro tipo de “superioridade” para obter vantagens de cunho amoroso e sexual de mulheres). 

Em Mulheres de Cinzas, na verdade, a personagem principal é a Guerra: enquanto um dos irmãos de Imani se alia aos portugueses, o outro se alia ao imperador, e assim, em meio aos conflitos locais, vamos acompanhando as diferenças que separam os mundos de Germano e Imani e conhecendo mais sobre as opressões sofridas pelos africanos nas mãos dos portugueses nesse episódio da história da humanidade.

Mulheres de Cinzas tem uma linguagem um pouco diferente de nosso “português brasileiro”, personagens complexos e um enredo muito interessante, envolto na fantasia e magia locais. Muito mais do que um livro sobre uma história de amor, é um livro para pensar em diferenças, respeito, história e opressão. 

Fonte: site "Lado M"

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