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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Dívida pública pode levar Moçambique à falência

Investigadores moçambicanos alertaram nesta quarta-feira que o aumento galopante da dívida pública pode levar Moçambique a uma situação de falência e gerar conflitos laborais e sociais, perante a impotência da justiça em responsabilizar os autores de contas escondidas.
"Com o actual nível de dívida pública, Moçambique está praticamente a entrar para uma situação de falência e seria uma falência fraudulenta, não como as situações de crise económica e financeira que tivemos no passado", afirmou o economista e investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) António Francisco durante uma mesa-redonda sobre o endividamento moçambicano.
Enfatizando que o incremento do volume da dívida de Moçambique resultou de "falcatruas e mentiras", António Francisco acusou o Fundo Monetário Internacional (FMI) de cumplicidade por ter assumido sempre que o país tinha uma economia robusta.
"Um crescimento económico assente na poupança externa, expansão do endividamento e doações levar-nos-ia, mais cedo ou mais tarde a este ponto", assinalou o académico, docente na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane, no encontro promovido pelo Centro de Integridade Pública (CIP), IESE e Observatório do Meio Rural (OMR).
Por seu turno, João Mosca, economista e investigador do OMR, organização não-governamental que se dedica à pesquisa sobre economia rural, considerou inevitável um período de forte austeridade para o controlo da dívida pública, alertando para a emergência da conflitualidade laboral e social.
"Serão necessárias medidas de reestruturação económica, maior e melhor regulação e transparência nos aptos do Estado, alargamento da base tributária e fim das isenções fiscais", defendeu Mosca.
Com a actual situação, prosseguiu o académico, Moçambique terá de contar novamente com um FMI em força, a impor condições que vão agravar a pobreza e que dificilmente serão aceites pela população mais carenciada.
Por seu turno, Baltazar Faela, jurista e investigador do CIP, acusou a Procuradoria-Geral da República de omissão no poder e dever de iniciativa penal em caso de indícios de violação da lei, como parece ter acontecido no caso das chamadas dívidas escondidas.
"Há em Moçambique o princípio da presunção de inocência, mas o que verificamos nestes casos da dívida é que o Governo violou as leis e princípios orçamentais e a Constituição da República ao não pedir autorização à Assembleia da República para a contratação de avultadas dívidas", afirmou Faela.
Baltazar Faela acusou a PGR de actuar com dois pesos e duas medidas, uma vez que já exerceu a acção penal mesmo sem queixa no passado, mas mantém-se em silêncio em relação às dívidas secretamente contraídas pelo executivo moçambicano.
O Governo moçambicano reconheceu na terça-feira a existência de uma dívida fora das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando razões de segurança de infra-estruturas estratégicas do país.
Após as revelações na imprensa financeira internacional de dívidas ocultadas nas contas públicas, o FMI cancelou a missão que tinha prevista para a semana passada em Moçambique e, a seguir, suspendeu o desembolso da segunda parcela de um empréstimo ao Governo.
De acordo com um prospecto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de Moçambique e entregue no mês passado aos investidores em títulos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), o volume de dívida pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em 2012 para 73,4% em 2015.
PMA (HB/EYAC/FOS/MBA) // EL
Lusa

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